quinta-feira, 6 de maio de 2010

A cobertura e as cabeçadas da campanha

03/05/2010 - 15:52 (do Blog do Luís Nassif)


Começo de campanha é um Deus nos acuda para qualquer um. As duas campanhas estão dando cabeçadas. Mas, à medida que se selecionam e se divulgam cabeçadas só de um lado (Dilma), passa-se a impressão que o outro lado (Serra) tem uma campanha impecável. Até meu amigo Ricardo Kotscho ficou com essa impressão.

O episódio é interessante para demonstrar o poder de influência da cobertura da mídia, quando seleciona os fatos para divulgar. O relatório encaminhado abaixo, pelo leitor, é prova cabal disso.

Suponha que o aparato da mídia tivesse dado ênfase aos fatos abaixo relacionados – e se calado ante os desajustes na campanha de Dilma. A impressão que ficaria é a campanha de Serra desarticulada e a de Dilma impecável. Quando ambas estão dando suas cabeçadas normais nas largadas.

De Leitor

Ele disse que ia criar a Defesa Civil Nacional e teve de esquecer o assunto, porque ela já existe.

Ele disse que ia acabar com o Mercosul e teve de dar uma entrevista à Folha, para dizer que não era bem assim, depois de ser criticado dentro e fora do país.

Ele disse que vai resolver o problema da segurança criando um Ministério, e uma semana depois explodiu o aumento recorde da criminalidade em São Paulo, obra dele.

Ele misturou religião com antitabagismo e ficou mal com ateus e fumantes.

O chefe da campanha dele foi apanhado registrando sites de baixaria na internet.

O deputado amigo dele foi apanhado falsificando um depoimento da Marília Gabriela.

Ele corre atrás de todas as agendas dela. Pediu pra ir à Fiemg, pediu pra ser convidado no aniversário da Conceição, pediu pra ir outra vez ao Datena.

Ela foi aplaudida de pé na festa da Conceição. Ele foi ignorado.

No Primeiro de Maio, ele teve de se refugiar em Camboriú, porque nenhuma central sindical queria tê-lo no palanque.

Ele posou ao lado de um governador investigado pela Polícia Federal. E disse que não está informado sobre o inquérito…

A turma dele acusa estatais de pagar palanques do Primeiro de Maio, mas o governador suspeito pagou a festa de Camboriú.

Ele ainda não apareceu no Rio à luz do dia (só de noite, na festa da Conceição), porque não tem palanque pra subir.

Nem ao Rio Grande do Sul, pra não aparecer com a governadora.

Não tem palanque em Pernambuco, terra do presidente do partido dele.

Não tem no Ceará, terra do mais importante senador do partido dele.

Ele espalha que tem o apoio do PTB e do PP, mas ninguém viu a cor desse apoio.

O único partido que se decidiu, de março pra cá, foi o PSB. Pela adversária dele.

Os dois partidos de sua aliança, DEM e PPS, naufragaram no escândalo de Brasília.

Ele não fez uma só agenda com mulheres, artistas, caminhoneiros, movimentos, gente comum. Só com empresários e aliados.

Os dois institutos que lhe dão vantagem nas pesquisas estão sob suspeita de manipulação de amostras.

Ele foge do Fernando Henrique como o diabo da cruz.

Mas foi o primeirão a dar os parabéns ao Lula pela lista da Time.

Realmente, uma das campanhas teve muitos problemas na largada…

PS: Ele posou para as duas fotos mais ridículas da campanha até agora:

Autor: luisnassif - Categoria(s): EleiçõesMídiaPolíticaTags: 

''Jesus Cristo era um ET''

É o que garante o roqueiro que conserta bolsas e oferece consultoria sobre óvnis 

A placa na rua Joaquim Távora, zona sul de São Paulo, desperta a curiosidade dos pedestres: "Conserto de malas e bolsas. Estúdio para ensaios e gravações de bandas. Consultoria sobre discos voadores na Bíblia etc." Ao soar da campainha, o sonolento cachorro não esboça reação no quintal da casa de portão azul. "Pois não?", pergunta, da janela, um homem com olhar desconfiado, barba e cabelos desalinhados. "Estou interessado na consultoria de -óvnis." Breve pausa e a resposta: "Você está preparado? É muito sério o que vou dizer". 

O consultor de discos voadores é Lourival Gomes Navarro, 52 anos. Guitarrista da banda Válvula de Escape Intergaláticos, ele possui um pequeno estúdio com isolamento acústico em casa, que aluga para quem quer ensaiar música sem perturbar os vizinhos. Também trabalha num apertado quartinho, onde realiza reparos em bolsas de toda espécie. Quanto ao serviço de consultoria, esclarece desde o início, é gratuito. "Não posso cobrar por um conhecimento que adquiri sem pagar nada." 

Lourival dedica-se ao estudo de extraterrestres há 12 anos. Embrenhou-se nas publicações e nos congressos de ufologia após ver uma gigantesca nave espacial sobrevoando a Vila Mariana, acompanhada por dezenas de discos voadores de tamanho menor. "Era um domingo ensolarado. Estava na rua com um amigo, que testemunhou tudo. A nave-mãe tinha quilômetros de extensão e os discos, ao menos uns 50 metros de diâmetro", explica. Além do companheiro, não tem conhecimento de outras pessoas que tenham visto o que imaginou ser "uma invasão da Terra". Nem por isso se abala. "Este bairro vive às moscas no fim de semana. E são poucas as pessoas que olham para o alto", afirma. 

Vencer a desconfiança de familiares e as chacotas de amigos não foi tarefa fácil, mas ele garante ter logrado certo êxito. "É muito difícil alguém que não viu um óvni acreditar. Muitos preferem nem comentar o testemunho para não ser tachados de loucos. Mas, pouco a pouco, os militares estão divulgando informações sigilosas sobre a presença dos ETs. Fora os frequentes relatos de quem tem coragem de dizer que viu óvnis", afirma. "Aqui mesmo, na Vila, conheci uma advogada que também observou um disco voador. Eu mesmo voltei a ver outros óvnis numa noite. Fotografei, mas a imagem saiu ruim. Acho que a Vila Mariana está na rota de passagem deles." 

Para Lourival, os militares americanos e o Vaticano têm segredos valiosíssimos sobre a existência dos ETs. Mas tudo está guardado a sete chaves. "Eles não têm interesse em divulgar isso. Fazem o que podem para lançar desmentidos e esconder as provas e evidências. Quando surgiu aquele caso do ET de Varginha, por exemplo,- colegas- me contaram que testemunhas foram subornadas para ficar quietas", conta. "Mas basta ler a Bíblia com atenção para constatar o que digo. Para mim, Jesus Cristo era um extraterrestre. Ele mesmo dizia. Vim do alto e voltarei para o alto." 

Das leituras bíblicas, lembra de cabeça passagens que reforçam sua crença (ou, como define, "ciência"). "O que era a carruagem de fogo que arrebatou o profeta Elias? E quanto ao Salmo 68, versículo 17, que diz que os carros de Deus são miríades, milhares de miríades'. Há numerosas passagens que comprovam a existência dos discos voa-dores. Mas os religiosos interpretam isso como querem", lamenta. Com um exemplar da revista UFO nas mãos, mostra detalhes em pinturas sacras antiquíssimas parecidos com naves espaciais. 

Antes devoto da Igreja Católica e, depois, da Assembleia de Deus, Lourival diz que nenhuma religião é capaz de responder às suas dúvidas e inquietações. Por isso, faz da leitura bíblica apenas uma busca pela "verdade" da existência dos óvnis. E evita as discussões com "religiosos céticos", como o pastor de uma igreja evangélica vizinha. "Eu mostrava para ele os indícios da Bíblia e ele rebatia: 'Você realmente acha que Deus precisa de um disco voador para fazer valer sua vontade?' Não adiantava argumentar. Na última discussão, fui cercado por fiéis, que ergueram os braços e começaram a rezar como se eu estivesse possuído pelo demônio. Nunca mais voltei." 

Em casa, coleciona réplicas dos discos voadores que viu e dezenas de outros brinquedos, de ETs de pelúcia a maquetes de naves intergalácticas, boa parte deles presentes de amigos. Também ostenta uma tatuagem com o desenho dos óvnis que viu à luz do dia, sob os céus paulistanos. Quanto à consultoria, queixa-se da baixa procura. "A maioria só toca a campainha para tirar sarro. Também já tacaram pedras na minha placa e passaram trotes por telefone. O último foi de alguém que dizia ser da Rede Globo, mas não era reportagem coisa nenhuma. Por isso pedi sua credencial quando você disse que era jornalista." 
Involuntariamente, ganhou notoriedade após o seu anúncio ser incluído no livro Brasil das Placas – Viagem por um país- ao pé da letra, editado pelo jornalista José Eduardo Camargo. "Não sei por que ele fotografou a minha placa escondido. Quando ele foi ao programa do Jô Soares, recebeu até uma bronca: 'Como é que você vê uma placa dessas e não conversa com o dono?'" Também recebeu menções num jornal de bairro e numa revista. "Só notinhas curtas. Espero que você tenha mais espaço." 

Antes de voltar ao reparo das bolsas, Lourival despede-se com um pedido: "Pode divulgar meu trabalho de consultoria. Mas alerta o pessoal que é coisa séria. Não gostaria que batessem na minha porta para me chamarem de louco". Recado dado. 

(Por Rodrigo Martins, Carta Capital)